terça-feira, 8 de junho de 2010

É como disse, não vou mais escrever sobre Conformação. Não vale a pena, aliás sinto pena de mim mesmo escrevendo isso; e isso é terrível. Mas confesso que escrevi mais duas, mas não merecem um post, quem quiser que me peça o caderno para ler, e eu mostrarei na íntegra, com os erros, rabiscos e inserções tortas como todos os meus cadernos.

Esse poema que coloco agora foi uma poesia que comecei antes da morte de meu avô (27/05/2010), o interrompi por um momento e continei depois depois de sua ida. Talvez eu não tenha feito nenhum poema mais narrativo que isto....

Portugal, Moçambique e Brasil




Um ataque lacrimal me atingiu subitamente

Vendo meu velho avô agonizar,

Por um pouco de ar.

Ele inspirava aos soluços,

Era tudo o que conseguia fazer.

Agonizei junto.

Tive que sair do seu lado,

E parar de chorar.

A asma me sufocava;

Eu suportava

Por um pouco de ar.

Meus soluços eram diferentes.

Queria que tudo acabasse logo.

E pensava se iriam me indagar:

“- Porque não fez nada?”

“- Você podia tê-lo intubado!”

Arrepiei de medo e culpa,

Mas ele ainda está aqui.

Respirando, tentando...

...

(8 horas depois)

...

Quando parei este poema

Foi para socorrê-lo...

Meu medo ficou mais forte.

Ele tentava respirar e sufocava.

Eu tremia e pude sentir a Morte.

Seus soluços eram esparsos;

Os meus de desespero.

Ambos tragávamos cada vez menos.

Chamei a enfermeira:

“- Ele não tem muito tempo.”

Quando contei 20 segundos

Entre um soluço e outro,

Ele deu mais um.

E eu sabia que seria seu último.

Um arfar seco e curto.

Era o fim.

Um calafrio correu-me pela espinha

E a tristeza da perda sufocou-me.

Não pude evitar o conflito.

A supremacia inevitável da morte,

Com sua justiça impiedosa;

E meu alívio em lágrimas.

O choro triste de impotência

O fim da dor e da angústia;

Minha, mas principalmente dele.

Meu avô me avisara;

Só não queria sofrer.

...

O Hospital Universitário

Será para sempre uma incógnita.

Foi estranhamente cômico

Com seus loucos e bêbados

Esbravejando frases sem nexo

E verdades não ditas,

Ou simplesmente triste.

A angustiante convivência

Da precária situação de nossos

Humildes concidadãos

E sua cansativa busca por saúde.

Muitas noites não dormidas.

Ajudando uns, consolando outros.

...

Tentarei ficar com a lembrança do velho

Que entrou ruim e saiu melhor,

Mas deixou lembranças e saudade.

Volte bem para sua terra,

Seja ela em Portugal,

Em Moçambique

Ou Brasil;

Onde me deste colo.

E os problemas nós relevamos,

Resolvemos em vida,

Pois a morte só nos remete a coisas boas,

À momentos bons e alegres,

Apesar da perda.

Morte é certeza.

Boa ida meu bom avô.