Vendo meu velho avô agonizar,
Por um pouco de ar.
Ele inspirava aos soluços,
Era tudo o que conseguia fazer.
Agonizei junto.
Tive que sair do seu lado,
E parar de chorar.
A asma me sufocava;
Eu suportava
Por um pouco de ar.
Meus soluços eram diferentes.
Queria que tudo acabasse logo.
E pensava se iriam me indagar:
“- Porque não fez nada?”
“- Você podia tê-lo intubado!”
Arrepiei de medo e culpa,
Mas ele ainda está aqui.
Respirando, tentando...
...
(8 horas depois)
...
Quando parei este poema
Foi para socorrê-lo...
Meu medo ficou mais forte.
Ele tentava respirar e sufocava.
Eu tremia e pude sentir a Morte.
Seus soluços eram esparsos;
Os meus de desespero.
Ambos tragávamos cada vez menos.
Chamei a enfermeira:
“- Ele não tem muito tempo.”
Quando contei 20 segundos
Entre um soluço e outro,
Ele deu mais um.
E eu sabia que seria seu último.
Um arfar seco e curto.
Era o fim.
Um calafrio correu-me pela espinha
E a tristeza da perda sufocou-me.
Não pude evitar o conflito.
A supremacia inevitável da morte,
Com sua justiça impiedosa;
E meu alívio em lágrimas.
O choro triste de impotência
O fim da dor e da angústia;
Minha, mas principalmente dele.
Meu avô me avisara;
Só não queria sofrer.
...
O Hospital Universitário
Será para sempre uma incógnita.
Foi estranhamente cômico
Com seus loucos e bêbados
Esbravejando frases sem nexo
E verdades não ditas,
Ou simplesmente triste.
A angustiante convivência
Da precária situação de nossos
Humildes concidadãos
E sua cansativa busca por saúde.
Muitas noites não dormidas.
Ajudando uns, consolando outros.
...
Tentarei ficar com a lembrança do velho
Que entrou ruim e saiu melhor,
Mas deixou lembranças e saudade.
Volte bem para sua terra,
Seja ela em Portugal,
Em Moçambique
Ou Brasil;
Onde me deste colo.
E os problemas nós relevamos,
Resolvemos em vida,
Pois a morte só nos remete a coisas boas,
À momentos bons e alegres,
Apesar da perda.
Morte é certeza.
Boa ida meu bom avô.
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