terça-feira, 11 de maio de 2010

Conformação III

Certa vez salvei uma vida.

Nunca cobrei a dádiva da segunda chance.

E, no entanto, me pergunto se preciso de uma.

Não sei se é chance ou nova existência.

O vazio me sufoca

Não perdi e nem ganhei.

Estou na mesma, porém só.

Perdi, então.

A verdade é o veneno

Da vingança do Conde de Monte Cristo.

Mata a longo prazo,

Havendo sempre um antídoto.

Eu apenas não o tenho,

Às vezes, nem sei se quero.

E naquelas horas, naqueles lugares,

Quando o vento sopra uma lembrança triste,

Quando o mar que não vejo me salga,

Sou um marco zero d’alguma cidade perdida

No meio de minha consciência sem foco.

Antídoto ou mais veneno?

O pior é que no fundo,

Não há escolhas. Apenas para os fortes.

Não é meu caso.

Pois morte não é solução.

Salve os corajosos!

Digo, não os salvem...

Deixem que seus problemas se resolvam,

Da maneira mais simples,

Da forma como querem.

Morte não é minha solução.

Não agora.

Quase num passado,

Ou no futuro.

Escolherei pela vida.

Pela minha. Como há muito não o fazia.

Nada me impedirá de respirar,

A não ser essa asma;

Não farei este sofrimento

Me apagar deste mundo.

Este é meu remédio:

Conformação.

E paro por aqui.

Conformação II

Vagueio em seus lugares

Procurando seu cheiro

Sou um cachorro sem dono.

Guio-me pelo extinto mesmo sabendo

Que nós é extinto.

Desatamos aquele nó,

Mal me restou o pó.

Me entreguei novamente

Ao passado distante

E um improvável futuro.

Mas seguirei meu rumo;

Rio abaixo; Que saudade do Rio!

Da carioca, da Conterrânea.

Encalho mais uma vez

E lá se vai uma noite de sono.

Lerei isso com rancor?

Que saudade do Rio,

O lugar comum que me esvaziava o coração.

Até o fim destas notas

Lembrarei de não escrever

A terceira Conformação.

Pois até lá estarei mais forte

Sem ela, sem ninguém.

Solidão é dois gumes de uma faca enferrujada

A liberdade e a segurança.

Ai! Que saudade do Rio.